
Está cada vez mais difícil fazer jornalismo em temperatura ambiente.
Ou a imprensa esquenta o fato ou ameniza.
Já foi tema de artigo do professor da Unisinos Valério Brittos - e meu - que, apesar de todo o glamour que envolve a profissão, o jornalista é um operário como qualquer outro. É vítima das mesmas pressões empresariais. O bafo na nuca altera o conteúdo das reportagens, direta ou indiretamente. Existem os profissionais sem ética, também, claro, mas existe um contexto que deve ser levado em conta. Um pouco de cada coisa afeta o que a sociedade recebe.
PIMENTA E AÇÚCAR
Bastante difundido hoje em dia é o jornalismo com açúcar. São as matérias exaltando discursos políticos, sem materialidade. Os golpes, os crimes cometidos por ricos viram eufemismos na boca dos apresentadores. É a realidade limpinha, sem investigação para não comprometer. Por vezes, irresponsáveis, são os programas de humor que tomaram a frente. Essas atrações perguntam aquilo que precisa ser respondido, sem o filtro, sem assepsia. Um pouco dessa coragem é que vem faltando aos jornalistas.
Outra categoria dos dias modernos é o jornalismo com pimenta. Se o fato é por demais suave, o jornalista agrega o molho. Chama tudo de megaoperação, tragédia, violência, polêmica. Velhos, crianças e grávidas atingidos são os personagens essenciais dessa novela da vida quase real.
Se pudesse deixar alertas para a audiência de TV, diria: ultrapasse a barreira da forma, dos belos cabelos e ternos. Das frases de efeito e dos barítonos. Atenha-se ao que é material, profundo e que agregue.
O EDITOR